* O valor intrínseco do indivíduo, composto pelo seu caráter e personalidade é facilmente substituído pela beleza perecível, passageira, aquela que inevitavelmente se desgasta com a ação do tempo.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A gente não quer só polícia



A Secretaria de Segurança Pública da Bahia inaugurou na manhã de ontem (27 de setembro) mais três Bases Comunitárias de Segurança em Salvador. Desta feita, toda a região que compreende o Nordeste de Amaralina e adjacências foi contemplada.

A primeira base comunitária da capital baiana foi instalada no bairro do Calabar, em abril deste ano, para combater os altos índices de violência e a falta de acesso dos seus moradores aos serviços essenciais de saúde, educação e lazer. Alguns meses após a sua instalação pode-se afirmar que houve uma queda considerável das ocorrências policiais, mas muito do que se prometeu sobre propiciar uma melhor qualidade de vida à população local não saiu do papel.

O problema é que os chamados bairros periféricos não sofrem apenas com a falta de segurança. Serviços básicos, porém essenciais, como iluminação, redes de esgotamento sanitário, creches, escolas, postos de saúde e espaços públicos de lazer são altamente deficitários, criando uma imensa lacuna social, independente da melhoria significativa da segurança.

A instalação das UPP´S (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio de Janeiro confirma essa tendência. Estudos comprovam que a pacificação foi conquistada em maior ou menor índice nas localidades contempladas, mas a aplicação de políticas públicas que promovam a garantia dos direitos humanos e a mobilização do Estado para atender todas as vertentes sociais ainda não virou realidade.



A população carente de Salvador, assim como a dos morros e favelas cariocas, não precisa de “polícia” na acepção mais simplista da palavra. Precisa de uma corporação que saiba lidar com as diferenças, respeite a autonomia e a cultura local, não use da opressão para instituir poder e que seja uma espécie de associação de moradores preocupada com o bem-estar em sua totalidade.

Ainda assim, nada nos impede de comemorar mais uma iniciativa que promete restabelecer a paz numa das regiões mais violentas da cidade.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

FIFA ameaça tirar Mundial de 2014 do Brasil

 

Não é mais boato. A FIFA estaria sim disposta a cancelar a realização da Copa do Mundo no Brasil devido a divergências com o governo federal. Ainda é cedo para avaliar as reais possibilidades de isso acontecer, mas caso não haja um entendimento o evento poderia ser sediado nos EUA ou na própria Alemanha que correspondeu positivamente a todas as expectativas em 2006.

Segundo informações do jornal Folha de São Paulo o presidente da entidade máxima do futebol, Joseph Blatter (foto), enviou uma carta de ultimato à presidenta Dilma Roussef, solicitando que o país acelerasse as obras nos estádios e que enviasse para o congresso a Lei Geral da Copa. Um dos entraves é a definição sobre a venda de meia-entrada para idosos, que consta inclusive no Estatuto do Torcedor, algo que a FIFA já havia vetado em eventos anteriores e quer repetir a conduta no Brasil. Outras questões ligadas à publicidade nos estádios e ao comércio como um todo também seguem sem definição.

Difícil acreditar na suspensão da Copa em nosso país, o que denotaria uma tremenda falta de organização de todas as partes envolvidas, mas devemos reconhecer que muita coisa precisa ser feita e estamos tocando as exigências da FIFA em ritmo desacelerado. Por outro lado, penso que o Brasil não deve ceder às pressões e ir de encontro, inclusive, com algumas premissas básicas que por lei regem o nosso futebol. Agora, sem dúvida alguma, devemos rever todos os prazos, repensar alguns projetos, colocá-los em prática e arregaçar as mangas para receber milhões de turistas que nos visitarão em 2014. Assim como a África do Sul foi capaz de sediar o evento, nós também somos. Só precisamos acreditar nisso!

Não acredite em tudo o que lê e ouve



1º  Reparem os títulos dos jornais O Globo e Folha de São Paulo, datados de 13 de janeiro de 2008, referentes à reabertura do Museu de Arte de São Paulo (Masp):

* O Globo: "Masp reabre com mais polícia do que público".

* Folha de São Paulo: "Na reabertura do Masp, sobra público e falta segurança".

Dois veículos e o mesmo fato. Porque a discrepância?

2º  Por que a atividade jornalística é tida como de natureza social e finalidade pública se é mantida exclusivamente por empresas privadas? Talvez para vender a noção de isenção, objetividade e imparcialidade. Acredite quem quiser!

Aborto. Reprimir ou legalizar?



Na última corrida presidencial o tema aborto foi alçado a papel de destaque pelos candidatos. Muito se questionou acerca da descriminalização da prática no país, mas não avançamos muito nesse sentido. A discussão serviu apenas para apimentar os embates porque as estatísticas de mortes provocadas pelos procedimentos clandestinos não param de crescer. Uma temeridade!

No centro da polêmica está a Igreja Católica e os seus dogmas religiosos. O Brasil é a pátria com o maior contingente de católicos do mundo e tanto a população quanto as autoridades públicas tomam esses dogmas como norte para se posicionar sobre o debate. Recentemente, o Papa Bento XVI voltou a afirmar que é contrário à descriminalização ignorando a liberdade de consciência propagada pela entidade que dirige e um sem número de vidas ceifadas em consultório ilegais.


Em contrapartida os religiosos conservadores acreditam que se a lei de descriminalização for aprovada haverá uma corrida desenfreada de mulheres para os hospitais, uma espécie de “indústria da morte” bancada pelo Estado e com total anuência da igreja. Daí se explica o posicionamento contrário.


O problema é que mesmo sem a existência de uma lei específica milhões de mulheres brasileiras perdem suas vidas ao adotar a prática pelas vias da clandestinidade. Independentemente da questão religiosa devemos priorizar a educação sexual, os métodos contraceptivos e a preservação da vida, que é, sem dúvida alguma, o maior expoente de toda a discussão. A propósito, a contracepção também é duramente criticada pela Igreja.

Penso que vivemos um retrocesso dos direitos conquistados pelas mulheres ao longo dos séculos. Temos de levar em consideração situações extremas de gravidez indesejada, como o estupro, por exemplo. Quem se posicionaria contra o aborto se tivesse um parente próximo vítima de tal agressão? A hipocrisia não pode servir como plano de fundo, mas reconheço que também não tenho uma opinião sólida e definida a respeito. Prefiro ficar com os defensores da educação sexual e dos métodos contraceptivos em “condições normais” de gravidez, mas sou terminantemente contrário à repressão nos casos de violência sexual.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Reforma política já!



Os sucessivos escândalos e denúncias de corrupção fazem crescer o anseio de milhões de brasileiros por um projeto consistente de reforma política. Os fatos mais recentes remontam à queda de quatro ministros do governo da presidenta Dilma Roussef, iniciado há pouco mais de seis meses.

A discussão sobre a urgência de uma reforma do modo de fazer política no Brasil volta à tona, desta vez capitaneada por partidos que compõem o bloco de esquerda: PT, PDT, PC do B e PSB, valendo destacar também a “colaboração” do ex-presidente Lula. Uma das principais propostas é a substituição do financiamento privado das campanhas pela utilização exclusiva de recursos públicos como forma de aumentar a transparência no período que antecede às eleições e, especialmente, quando a “festa da democracia” termina. Isso porque as irregularidades do financiamento privado das campanhas são notórias. A começar pelo relacionamento suspeito das empresas e pessoas físicas financiadoras com os futuros governos. É óbvio que existe uma expectativa da parte de quem doa configurando uma espécie de mão dupla. Não acredito na mera identificação com a ideologia partidária e outras pérolas contadas por defensores do financiamento privado. Tanto é que as doações são feitas para candidatos diferentes, de partidos diferentes e é muito comum empresas que destinaram vultosos recursos vencerem de forma sombria licitações para tocar obras públicas.

Outro ponto importante do financiamento público das campanhas é reduzir a disparidade do poderio econômico dentro dos partidos. Se assim fosse, por exemplo, é certo que quem disputaria diretamente com a atual presidenta na última eleição seria Marina Silva que “correu por fora” justamente por não contar com donativos que fizessem páreo ao que foi empregado na campanha do tucano José Serra. Chega a ser uma covardia comparar os recursos arrecadados pelo PSDB e seus aliados com o que foi destinado para o PV.

A expectativa é de que a tão sonhada e distante reforma política torne-se uma realidade ou de que pelo menos parte das suas premissas seja validada antes das próximas eleições. Precisamos reunir esforços para aumentar a transparência da política brasileira, pois estamos aumentando a cada dia nossa representatividade e importância globais, ainda obscurecidas pelos constantes escândalos divulgados no noticiário internacional.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Acabou a “farra” dos veículos importados


Quem desejar adquirir um veículo importado vai pagar mais caro. O governo federal decidiu aumentar em 30 pontos percentuais o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) gerando críticas de consumidores e das empresas que passaram a investir alto no Brasil (especialmente chinesas e coreanas). A medida, segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega (foto), tem por objetivo proteger o mercado nacional da invasão dos importados e aumentar a competitividade dos veículos nacionais. Ainda segundo o ministro apenas as empresas que provarem que etapas importantes do processo produtivo são realizadas aqui no Brasil estarão isentas do reajuste.

Difícil avaliar a medida tomada pelo governo. Do ponto de vista dos consumidores, que assim como as montadoras serão afetados (no que tange ao preço final do produto), a iniciativa é desastrosa. Grande parte dos veículos importados comercializados no país oferece vantagens em relação aos nacionais. O tempo de garantia e os itens de série já embutidos no valor final do produto são um grande atrativo. Por outro lado, a “invasão” dos importados tem deixado os pátios das indústrias nacionais lotados, podendo ser o estopim de uma reação em cadeia que pode desempregar milhões de brasileiros. Mas será que as concessionárias estrangeiras trazem funcionários do seu país de origem para trabalhar aqui? Uma dicotomia, já que o governo brasileiro fala em demissões nas concessionárias de montadoras nacionais, mas a proliferação das concessionárias de montadoras estrangeiras, por sua vez, não pára de empregar.

O engraçado é que a histórica farra com dinheiro público gera uma desconfiança quase que automática na população. Acho válida a tentativa de proteger o mercado nacional, mas sou reticente sobre a real necessidade de reajustar os impostos, uma vez que o bolso do trabalhador será lesado mais uma vez. Por que não reduzir a carga tributária das montadoras nacionais para fazer frente às estrangeiras? O mercado interno ficaria ainda mais aquecido, as pessoas comprariam como nunca e o recolhimento de impostos seria da mesma forma, alçado a condições ainda melhores. Enfim, mais uma decisão tomada sem um aparente debate entre os setores interessados e o resultado é sempre o mesmo: vai doer no nosso bolso!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Faltam 1.000 dias para a Copa. Tem o que comemorar?



O povo brasileiro iniciou na data de hoje, 15.09.2011, a contagem regressiva para a Copa do Mundo de 2014. Em diversos estados que sediarão o evento esportivo haverá solenidades, destacando-se Belo Horizonte, com a presença de Pelé e da presidenta Dilma Roussef.

Restando “apenas” 1.000 dias para a adequação de toda a infraestrutura das cidades e construção das arenas pode-se afirmar que o quadro atual é preocupante. De acordo com o Portal 2014 (disponível em http://www.copa2014.org.br/) quatro das 12 arenas estão com atrasos no cronograma das obras: Curitiba (Arena da Baixada); Natal (Estádio das Dunas); Rio de Janeiro (Maracanã) – que desde 1º de setembro enfrenta greve dos trabalhadores; e Porto Alegre (Estádio Beira Rio). Vale ressaltar que nessas cidades existem atrasos também na execução das obras em aeroportos, vias públicas, construção e ampliação de hospitais e implementação de novas políticas de segurança pública.

Em Salvador, ainda segundo o Portal 2014 e outras mídias que fazem o acompanhamento das obras, o projeto da Arena Fonte Nova segue em ritmo acelerado. No entanto, nenhuma das propostas para melhorar a mobilidade urbana saiu do papel, assim como os serviços de reforma / ampliação das estações de transbordo, hospitais e estratégias para conter o avanço da criminalidade.

Em meio às “comemorações” pelo marco dos 1.000 dias para o início da Copa, os cidadãos soteropolitanos estão de cabeça quente com a administração municipal e a conivência do Palácio de Ondina. O prefeito João Henrique acaba de anunciar a privatização das estações de transbordo da capital, do Elevador Lacerda e dos planos inclinados, com a justificativa de que o município não dispõe de verba suficiente para administrá-los. Ainda nesse semestre a prefeitura deverá abrir licitação para que já em 2012 os aparatos públicos citados acima sejam geridos por empresas de capital privado, sem que haja garantias efetivas da qualidade dos serviços, assim como do valor que será cobrado à população.

Assim como encontramos tempo para “comemorar” o início da contagem regressiva a expectativa é de que daqui a 1.000 dias estejamos devidamente preparados para receber os milhares de turistas que vão desembarcar em solo brasileiro. Em solo baiano, sorte do turista que conseguir fazer o trajeto aeroporto – hotel – hotel – Arena Fonte Nova – Arena Fonte Nova – Pelourinho sem os travamentos viários de hoje e de não cruzar com um sacizeiro perambulando e roubando sua máquina fotográfica nas vielas do Centro Histórico.

Avante Salvador, Bahia e Brasil. 2014 é logo ali!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O “toma lá dá cá” de Patrícia Poeta


O programa Fantástico exibido no domingo (11.09.2011) reservou aos seus telespectadores uma cena no mínimo desconcertante. A jornalista Patrícia Poeta, apresentadora do referido programa, conduziu uma entrevista no Palácio do Planalto com a presidenta Dilma Roussef para tratar dos mais variados temas; do tipo de comida servido na residência oficial do Chefe de Estado, passando pelas expectativas em torno da Copa do Mundo até chegar às questões essencialmente políticas. Em determinado momento da entrevista Patrícia resolve questionar a presidenta sobre as alianças partidárias que são feitas (mesmo porque num país pluripartidarista como o nosso não se governa sem essas alianças) ilustrando com o termo “toma lá dá cá”. Dilma, visivelmente contrariada, mas bastante segura, pede que a jornalista lhe dê um exemplo do “dá cá” que, em contrapartida, ela daria um do “toma lá”. Surpresa e sem reação, Patrícia Poeta permanece atônita com as mãos no queixo e não consegue proferir sequer uma palavra. Percebendo isso, a presidenta quebra o silêncio e diz que tudo não passou de uma brincadeira.

Em primeiro lugar é preciso dizer que foi visível certo nervosismo de Patrícia Poeta na condução da entrevista, o que é indiscutivelmente natural. Mesmo com toda bagagem que possui ela não está isenta de sentir ansiedade ao entrevistar a maior autoridade política do país; só não acredito que a direção do Departamento de Jornalismo da Globo aceite isso com tanta naturalidade. No entanto, não consigo entender como uma jornalista experiente pôde formular equivocadamente uma pergunta tão simples. Ora, todos nós cidadãos brasileiros sabemos da existência e da necessidade dessas alianças para que decisões importantes (ou não) sejam tomadas e logicamente reconhecemos também um número incontável de maracutaias provenientes dessas “ligações”. Mais grave do que tudo isso foi perceber que a emissora “cortou” essa parte da entrevista ao exibi-la no matinal Bom dia Brasil da segunda-feira (12.09.2011). Além de uma gafe gritante uma enorme falta de comprometimento com a verdade e com os seus telespectadores; mais uma vez, a Rede Globo manipula a informação para defender os seus interesses. Onde está o jornalismo verdade tão propagado pela emissora?